quinta-feira, 24 de maio de 2012

Piaget e o desenvolvimento cognitivo



Jean Piaget (1896-1980) foi um psicólogo e filósofo suíço, conhecido pelo seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando o seu processo de raciocínio. Os seus estudos tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.

Defende uma perspetiva construtivista do desenvolvimento cognitivo, segundo a qual as estruturas do pensamento são produto de uma construção contínua do sujeito que age e interage com o meio.

Alguns conceitos da teoria de Piaget:

↘ Os indivíduos organizam o meio através de estruturas mentais – esquemas – que se modificam com o desenvolvimento mental e que se tornam cada vez mais refinadas à medida que a criança se torna mais apta a generalizar os estímulos.
O desenvolvimento dá-se através do equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, resultando em adaptação. O ser humano assimila os dados que obtém do exterior, mas uma vez que já tem uma estrutura mental que não está "vazia", precisa adaptar esses dados à estrutura mental já existente. O processo de modificação de si próprio é chamado de acomodação.



                 
Existem fatores que influenciam o desenvolvimento e são eles:
 1)     A hereditariedade influencia o desenvolvimento, mas é insuficiente para explicá-lo; a própria maturação está na dependência da atividade do sujeito.
2)    A experiência física é entendida como toda a experiência que resulta das ações realizadas materialmente.
3)    A transmissão social diz respeito ao fator da educação, que é fundamental mas não suficiente.
Para a transmissão ser possível entre o adulto e a criança ou entre o meio social e a criança a ser educada, é necessário que ela assimile o que o meio lhe quer transmitir.
4)    A equilibração é o fator essencial e determinante no desenvolvimento do sujeito neste processo de adaptação ao meio em que vive e caracteriza-se a por dois aspetos:
§  Equilibrar entre si os outros três fatores do desenvolvimento;
§  Equilibrar a descoberta de uma noção nova com outras já existentes nas possibilidades de entendimento da criança ou adulto.


↘O desenvolvimento intelectual faz-se por etapas sucessivas em que as estruturas intelectuais se desenvolvem progressivamente. Piaget chama a essas etapas estádios ou períodos que de seguida apresentamos.

Estádio sensório- motor (0 - 18/24 meses)
           
            A atividade cognitiva durante este estádio baseia-se, principalmente, na experiência imediata através dos sentidos em que há interação com o meio, esta é uma atividade prática. Na ausência de linguagem para designar as experiências e assim recordar os acontecimentos e ideias, as crianças ficam limitadas à experiência imediata, e assim veem e sentem o que está a acontecer, mas não têm forma de categorizar a sua experiência.




Estádio Pré-operatório (2 - 7 anos)


Neste estádio a criança ainda não consegue efetuar operações, mas já usa a inteligência e o pensamento. A grande aquisição deste estádio é a Função Simbólica que se manifesta através de:



  1. Animismo - A criança vai dar características humanas a seres inanimados. Este animismo vai desaparecendo progressivamente, aqui salienta-se a importância do papel do adulto, na medida que a partir sensivelmente dos cinco anos, não deve reforçar, mas sim atenuar o animismo.
  2. Realismo - A realidade é construída pela criança. Se no animismo ela dá vida às coisas, no realismo dá corpo, isto é, materializa as suas fantasias. Se sonhou que o lobo está no corredor, pode ter medo de sair do quarto 
  3. Finalismo - Existe uma relação entre o finalismo e a causalidade. A criança ao olhar o mundo tenta explicar o que vê, ela diz que se as coisas existem têm de ter uma finalidade, no entanto, esta ainda é muito egocêntrica. Tudo o que existe, existe para o bem essencial dela própria. Também aqui o adulto reforça o finalismo. Vai diminuindo progressivamente ao longo do estádio, apesar de persistir mais tempo que o animismo, devido às atitudes e respostas que os adultos dão às crianças.
  4. Artificialismo - É a explicação de fenómenos naturais como se fossem produzidos pelos seres humanos para lhes servir como todos os outros objetos (Ex: o sol foi aceso por um fósforo gigante; a praia tem  areia para nós brincarmos).
  5. Egocentrismo - É a tendência da criança ligar tudo que lhe acontece com os seus sentimentos e ações. É incapaz de compreender as coisas de outro ponto de vista que são seja o seu, toma o seu ponto de vista como o único.

Jogo - Para Piaget o jogo mais importante é o jogo simbólico onde predomina a assimilação (Ex: é o jogo do faz de conta, as crianças "brincam aos pais", "ás escolas", "aos médicos").
Desenho - Até aos dois anos a criança só faz riscos, sem qualquer sentido, porque, para ela, o desenho não tem qualquer significado, no entanto aos três anos já atribui significado ao desenho, fazendo riscos na horizontal, na vertical, espirais, círculos. Tem uma imagem mental depois de criar o desenho. Aos quatro anos a criança já é mais criativa e começa a perceber os seus desenhos e projeta no desenho o que sente.
Linguagem - A linguagem, neste período, começa a ser muito egocêntrica, pouco socializada, ou seja, a linguagem está centrada na própria criança. Ela não consegue destingir o ponto de vista próprio, do ponto de vista do outro e, por isso, revela uma certa confusão entre o pessoal e o social, o subjetivo e o objetivo.
Imagem e Pensamento - A imagem mental é o suporte para o pensamento. A criança possui imagens estáticas tendo dificuldade em dar-lhe dinamismo. O pensamento existe porque há imagem.
Este estádio, em que as crianças são sonhadoras, muito imaginativas e criativas, possui também as seguintes características:

Estádio das operações concretas (7 - 12 anos)
           
            Segundo Piaget é neste estádio que se reorganiza verdadeiramente o pensamento. É a partir deste estádio que as crianças começam a ver o mundo com mais realismo, deixam de confundir o real com a fantasia, adquirindo a capacidade de realizar operações. No entanto a criança tem de ter a noção da realidade concreta para que seja possível efetuar as operações. É nesta altura que a criança começa a ter noção dos conceitos de tempo e de número. O pensamento da criança apresenta também as características de reversibilidade e de associação, que lhe permitem interpretar eventos independentemente do seu arranjo actual.


Estádio das operações formais (11/12 - 15/16 anos)


            A transição para o estádio das operações formais é bastante evidente dadas as notáveis diferenças que surgem nas características do pensamento. O adolescente realiza raciocínios abstratos, não recorrendo ao contacto com a realidade. É nesta fase que o adolescente desenvolve a sua própria identidade, podendo haver, neste período problemas existenciais e dúvidas entre o certo e o errado. O adolescente pensa e formula hipóteses, estas capacidades vão permitir-lhe definir conceitos e valores, por exemplo estudar determinada disciplina, como a geometria descritiva e a filosofia. Predomina o egocentrismo cognitivo, pois o adolescente acredita ser capaz de resolver todos os problemas que aparecem, considerando as suas próprias conclusões como as mais corretas – crença na omnipotência da reflexão, como se o mundo se tivesse que submeter aos sistemas e não os sistemas à realidade.

Desenvolvimento Psicossexual segundo Freud


Segundo Freud, um dos grandes aspetos da realização do ser humano é a componente sexual. Defende por isso que a criança passa por várias fases e cada uma destas fases se associa a sensações de prazer ligadas a uma zona erógena específica. Entre os 0 e os 6 Anos, a criança passa por três estádios, oral, anal e fálico. Depois dos 6 anos, a criança passa ainda pelos estádios de latência e genital.

Estádio Oral (Do nascimento aos 12/18 meses)
ü  A boca é a principal fonte de prazer sexual para além de se prestar para satisfazer as necessidades alimentares;
ü  Nesta fase, tudo o que a criança é capaz de agarrar leva à boca, independentemente de ser alimento ou não;
ü  É através da boca que a criança contacta com o mundo, vivendo numa situação de indiferenciação eu-mundo. Não há distinção entre o “eu” e o “outro”;
ü  O primeiro objeto de amor é a mãe.

Estádio Anal (Dos 12/18 meses aos 3 anos);
ü  Durante o segundo ano de vida as crianças começam a desenvolver o controlo esfincteriano, verificando-se por parte dos pais a preocupação da criação de hábitos de higiene;
ü  Nesta fase a zona erógena centra-se na zona anal. Reter e expulsar fezes torna-se fonte de prazer;
ü  É também nesta fase que se começa a verificar separação entre o “eu” e o “outro”.

Estádio Fálico (Dos 3 aos 5/6 anos)
ü  Nesta fase, as crianças começam a descobrir o seu próprio corpo e também a explorá-lo;
ü  A zona de prazer desloca-se para os órgãos genitais, a criança obtém prazer ao tocar-lhes;
ü  O rapaz sente uma atracão especial pela mãe e desenvolve uma agressão competitiva relativamente ao pai. A rapariga sente-se atraída pelo pai, sentindo a mãe como um obstáculo à realização dos seus desejos. Estas situações foram designadas por Freud como “Complexo de Édipo” e “Complexo de Electra” respetivamente.

Estádio de Latência (Dos 5/6 anos à Puberdade)
ü  Após a vivência dos complexos e com um superego já formado, a criança entra numa fase de latência, ou seja, entra numa aparente atenuação da atividade sexual;
ü  Ocorre a amnésia infantil;
ü  A criança investe a sua energia nas atividades escolares, sociais e culturais.

Estádio de Genital (Da Puberdade à Adolescência)
ü  A partir da puberdade a zona erógena é a região genital;
ü  A adolescência vai reativar a sexualidade genital que esteve adormecida durante o período anterior;
ü  O adolescente vai reativar o seu complexo de Édipo e poderá assim fazer escolhas sexuais fora do mundo familiar, bem como adaptar-se a um conjunto de exigências socioculturais;
ü  O prazer sexual envolve todo o corpo.




Desenvolvimento Psicossexual segundo Freud
Estádio
Idade
Fonte de Prazer
Conflito
Oral
Do nascimento aos 12/18 meses
Boca, lábios e língua.
Mamar, comer e morder
Desmame
Anal
Dos 12/18 meses aos 3 anos
Ânus.
Reter, expulsar, controlar.
Asseio.
Treino da higiene
Fálico
Dos 3 aos 5/6 anos
Órgãos genitais.
Explorar o próprio corpo e o dos outros.
Tocar nos órgãos genitais.
Complexo Édipo/Electra
Latência
Dos 5/6 anos aos 12/13 anos
Ausência de interesses sexuais.
Curiosidade Intelectual e relacionamento social
-----
Genital
Depois da puberdade
Contactos sexuais com outras pessoas
-----





Desenvolvimento físico na adolescência

Adolescência:
  • Crescer ou desenvolver-se até à maturidade;
  • Deixou de ser um conceito puramente biológico e passou a ter, sobretudo, uma conotação psicossocial;
  • Fase crítica no processo evolutivo em que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajustamentos de ordem pessoal e de ordem social;

São muitas e profundas as mudanças fisiológicas e estruturais que ocorrem no corpo das raparigas e dos rapazes adolescentes como se pode ver na seguinte figura:

Estas mudanças são progressivas, desenvolvendo-se durante três ou quatro anos. Verificam-se, em geral, entre os 12 e os 15 anos nas raparigas, e entre os 13 e os 16 nos rapazes. Durante este período, os órgãos genitais e todo o organismo transformam-se. A criança torna-se adolescente e depois adulto com a capacidade de se reproduzir.


Quando o desenvolvimento destas mudanças características da adolescência não ocorre de maneira normal ou no período que se espera, podem surgir alguns problemas específicos:

Raparigas:
·         Reação à menarca (primeira menstruação muito cedo);
·         Desenvolvimento e tamanho dos seios.



Rapazes:



  •   Maturação tardia (rapazes com maturação tardia tendem a ser mais baixos, mais fracos e consequentemente piores atletas);
  •   Tamanho do pénis (masculinidade é posta em causa).


Implicações…
Existem também algumas diferenças de personalidade entre adolescentes com maturação precoce e maturação tardia, como por exemplo o facto de os rapazes com maturação precoce se sentirem mais autoconfiantes do que os com maturação tardia. As diferenças de personalidade entre adolescentes com maturação precoce e maturação tardia devem-se em grande parte à forma como são tratados. Por exemplo se os pais e professores olharem para a maturação precoce/tardia como uma característica negativa, os adolescentes com maturação precoce/tardia podem ser afetados negativamente.

Desta forma é importante ajudar a desenvolver a confiança dos rapazes com maturação tardia e dar um apoio especial às raparigas com maturação precoce.

Ao nível da educação, os professores devem ajudar os alunos a sentirem-se apoiados e menos preocupados com o seu crescimento físico, emocional e sexual.